Vamos tratar de um tema comum às diversas áreas da saúde: a somatização.
Embora a sua classificação ainda mereça revisões para uma definição mais coesa, o que se entende por somatização é a manifestação de conflitos e angústias psicológicas por meio de sintomas físicos/corporais, porém, sem uma aparente causa orgânica, sem uma explicação médica, sem uma evidência patológica. (Lipowski, 1988) (Kapfhammer, 2001)
Na atenção primária de saúde, parte das queixas relacionados à dor lombar, cansaço, tensão e sentimentos de ansiedade representam, na verdade, quadros de somatização de transtornos depressivos, que costumam ser subdiagnosticados. Tal situação acarreta altos custos com os serviços de saúde, chamando atenção para a importância de uma maior compreensão por parte dos profissionais de saúde. (Barkow et al., 2004)
Florenzano Urzúa e colaboradores em 2002, também observaram uma relação entre pacientes somatizadores e quadros de depressão, ansiedade, transtornos médicos crônicos e associação com traumas da infância.
Ainda vivemos sob a herança médica e cultural da dualidade mente/corpo proposta por Descartes, na qual as doenças do corpo costumam ser supervalorizadas em detrimento do sofrimento psíquico. Em algumas circunstâncias, percebe-se a dificuldade dos profissionais de saúde em entender os pacientes de maneira multidimensional.
Se por um lado, o paciente tem dificuldade em definir os seus sintomas de características subjetivas, por outro lado, os profissionais nem sempre lidam bem com a falta de objetividade no processo. Isso pode levar a uma série de consequências, como por exemplo, pacientes em sofrimento, estigmatizados como “difíceis”, subdiagnosticados e sem o devido encaminhamento e tratamento.
Como os sintomas surgem predominantemente no corpo físico, dificilmente, os pacientes que somatizam buscam atendimento psicológico ou psiquiátrico de imediato. Eles costumam iniciar a sua busca diagnóstica por meio de explicações orgânicas para os seus sintomas.
Daí a importância de nós, fisioterapeutas, estarmos atentos à definição e entendimento da somatização, inclusive porque a dor é uma das queixas mais comumente apresentadas.
Sendo assim, estamos diante de um desafio clínico! Podemos estar tratando pacientes que, embora tragam uma dor somática, necessitem de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico. Podemos, ainda, potencializar uma questão orgânica de pequenas proporções em função de um quadro de somatização não diagnosticado. Ou seja, essa dificuldade diagnóstica e terapêutica acaba por frustrar profissionais e, principalmente, pacientes que não recebem o devido tratamento e acolhimento.
Tal reflexão sinaliza para a necessidade de uma atuação multi e interdisciplinar, a fim de contemplar esses pacientes em suas dores e demandas.
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