Vivemos a era da Revolução digital. Passamos longas horas do dia conectados à internet, que é considerada nossa casa digital, e estamos submetidos a uma enxurrada de informações, dentre elas, algumas informações falsas (fake News). No meio virtual, tudo acontece em um ritmo acelerado e imediatista, alterando o modo de agir e de pensar das pessoas. A sociedade sofre transformações de ordem econômica, política e cultural sob a influência da Revolução digital. (VAZ; FERNANDES, 2021)
Esse excesso acaba gerando um conflito interno nas pessoas, causado entre a discrepância do mundo real e o mundo virtual, já que a realidade não corresponde ao que se vê no ambiente virtual.
Nas redes sociais, são compartilhados fotos, vídeos, pensamentos e estilo de vida. A expectativa sempre gira em torno de curtidas e comentários que validem essas postagens. Muitas vezes, a vida pessoal é exposta sem medidas, e, tal exposição impacta diretamente na autoestima das pessoas.
A autoestima é a percepção que o sujeito traz de si mesmo e envolve aspectos emocionais, figurativos e comportamentais. Funciona como um medidor interno de aceitação pessoal. O ideal é que o indivíduo apresente uma autoestima em equilíbrio, com uma autoavaliação justa, sem distorção da autoimagem. (RISO, 2012)
O ser humano normalmente está em constante busca pela felicidade, e a autoestima costuma ser uma porta de acesso para ela. A exposição prolongada a postagens virtuais que criam idealizações de padrões de corpos ideias e vidas perfeitas tem provocado distorções na autoimagem de muitos indivíduos, comprometendo sobremaneira a autoestima deles, modificando seus comportamentos e causando distúrbios psicológicos relacionados a essa insatisfação. (SILVA, 2019)
Em busca desse padrão ditado pelo ambiente virtual, de corpos ideias, algumas pessoas incorporam dietas, atividades físicas, cosméticos e procedimentos estéticos que não estão a serviço da saúde humana, potencializando doenças somáticas e mentais, inclusive a baixa autoestima. (LIRA, A. G.; GANEN, A. DE P.; LODI, A. S. P.; ALVARENGA, 2017)
Algumas mulheres, ao se perceberam fora do padrão socialmente imposto, padrão quase inatingível, que desconsidera aspectos importantes como individualidade e genética, desenvolvem sentimentos negativos de angústia, frustração, solidão e exclusão social. (SOUZA, E. A. DE E SILVA, 2017)
Fatores econômicos também estão envolvidos nos impactos negativos provocados pelas redes sociais, uma vez que muitos indivíduos, mais vulneráveis emocionalmente, tentam viver um padrão não condizente com a sua realidade. Buscam compras, viagens, restaurantes, lançando-se em dívidas, sofrimento e frustrações.
Chamo atenção, ainda, para o impacto negativo das influências das redes sociais em crianças e adolescentes. Eles passam por modificações biológicas e emocionais e ainda apresentam uma imaturidade psicológica, incapazes de lidar bem com o cyberbullying, por exemplo. Costumam ser consumidores de tendências, tornando-os ainda mais vulneráveis a tais exposições.(LIRA, A. G.; GANEN, A. DE P.; LODI, A. S. P.; ALVARENGA, 2017)
O Instagram é uma rede social surgida em 2010 como fonte de entretenimento e, atualmente, também como fonte de subsistência. Muitos influenciadores digitais, que possuem milhares de seguidores, acabam tornando-se formadores de opinião. Representam modelos a serem seguidos como padrão ideal e perfeito de beleza, imagem e saúde. Porém, essa busca nem sempre considera aspectos de saúde, especialmente saúde mental, acarretando frustrações e angústia aqueles que tentam, a todo custo, alcançar tais padrões.
Em suma, o aumento da utilização das redes sociais na cultura atual narcísica, de máscaras e aparências, tem alterado o modo de vida e o comportamento de muitas pessoas. A angústia é exacerbada diante da constatação de muitos indivíduos que se sentem pequenos diante do fato de não conseguirem se encaixar na realidade utópica das redes sociais.
Essa realidade traz a urgente necessidade de ampliar a atenção e o cuidado com a saúde mental dos indivíduos de todas as idades. É importante uma cultura educativa, a fim de deixar claro para as pessoas os reais objetivos do ciberespaço.
Faz-se necessário ampliar o discurso, convidar pessoas de todas as faixas etárias e de todos os nichos econômicos e sociais para debaterem a relação entre o uso das redes sociais e a exacerbação da angústia humana. Afinal, o melhor caminho sempre passa pela educação e pela informação.
Não se trata de demonizar o avanço tecnológico e virtual, e sim de lançar luz às verdades. As pessoas precisam compreender que existe uma diferença, e mesmo uma distância, entre realidade virtual e realidade real. Para que assim, possam se beneficiar da tecnologia sem se verem alienadas, sofridas e angustiadas por um metaverso que não representa a sua realidade de vida.
Através da disseminação da educação e da informação quanto ao tema abordado, cada indivíduo pode trabalhar como agente multiplicador. Com um olhar lúcido, crítico e sensível, pode orientar outras pessoas, ajudando-as a lidar melhor com a emoções mobilizadas no ambiente virtual.
Cristiane Marques
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